2005/06/14

O Jarro


Também conhecido como "lírio da paz", o jarro é originário da África do Sul. Começou por ser importado pela Nova Zelândia no princípio do século XX, e é actualmente a segunda flor de corte mais exportada por este país, e uma das mais populares também em Portugal, onde cada vez é mais utilizada em arranjos decorativos para interior e ramos de noiva, pela pureza que simboliza. A associação desta flor ao casamento é de qualquer modo já antiga. Esta é uma noiva sul-africana em 1934.


Esta elegante planta foi introduzida na Europa aparentemente ainda antes de Van Riebeeck ter estabelecido a primeira estação na cidade do Cabo - o jarro aparece já em 1664 num relato do Jardim Real de Paris. Foi posteriormente enviada para a Europa como sendo uma das plantas mais interessantes da cidade do Cabo por Simon van der Stel um pouco antes de 1697. Muitos se debruçaram sobre o seu estudo desde então, e Marloth tentou inclusivamente explicar a natureza da textura única e da extrema brancura da flor, devendo-a não à pigmentação, mas a uma ilusão óptica causada pelos inúmeros espaços de ar entre a sua epiderme.


Pertencem à família Araceae, e ao género Zantedeschia, tendo recebido este nome do botânico italiano do século XIX Francesco Zantedeschia. As plantas são herbáceas perenes e no seu país de origem, a África do Sul, podem ser encontradas ao longo das estradas perto de saídas de água ou em terras lodosas. Há no entanto ideias divergentes em relação à sua tolerância aquática. O consenso parece ser de que os jarros crescerão em condições extremamente húmidas, e até submersos numa profundidade máxima de 5 centímetros em jardins de água como planta marginal. O jarro comum designa-se Zantedeschia aethiopica. Os outros tipos de jarro mais importantes descendem da variedade rehmannii, e apresentam-se em muitas e vivas cores e com folhas mais estreitas. Estas espécies são ainda menos resistentes ao frio que as aethiopica. Será melhor recolhê-las antes que o frio chegue. Mesmo depois de cortadas, geralmente as flores de todos os géneros apresentam uma grande durabilidade quando mantidas em água.

Os criadores têm tentado criar jarros de todos os tipos e cores. O jarro negro Schwartzwalder, por exemplo, vencedor de uma medalha de ouro, é resultado de muitos anos de experiências na Holanda.


Os jarros são cultivados principalmente pela sua flor simples mas requintada, que aparece normalmente na Primavera e no Verão. Os criadores são capazes de as fazer florescer em qualquer estação, dependendo das temperaturas mantidas na estufa, apesar de serem conhecidos como bolbos de Primavera. Em climas mais amenos podem mesmo florescer todo o ano, mantendo a folhagem sempre verde, e podem ser plantados em qualquer altura. Apesar destas plantas serem terrestres, adoram humidade e podem ser adaptadas para crescer em água rasa, pelo que dão excelentes resultados num jardim de água - devem ser colocadas em água rasa e terra rica em nutrientes, devendo poder receber sol ou sombra parcial. Em áreas onde o Inverno não seja rigoroso, as plantas sobreviverão no exterior sem dificuldades, no entanto é aconselhável abafar o solo com palha ou turfa nos meses mais frios.



Em vasos os jarros gostam que as raízes estejam bem firmes, e por isso os resultados são geralmente melhores na segunda volta. Na primeira época a produção é geralmente escassa e as flores são pequenas, ao passo que plantas já estabelecidas produzem múltiplas e bem desenvolvidas flores. Todos os jarros à excepção possivelmente da aethiopica exigem um período de repouso após a florescência. Devem descansar por 2 ou 3 meses num sítio seco e fresco antes de serem levados para um sítio quente e solarengo. No exterior preferem sol parcial a sombra parcial, mas podem ser prejudicados se plantados em sítios cujo ar contenha um alto teor de sal.


Os jarros são tóxicos para a maioria dos seres vivos. Assim se defendem de ser ingeridos por muitos animais herbívoros. As raízes são a parte mais perigosa da planta, mas todas as partes são tóxicas. Os sintomas definem-se pelo inchaço e pelo ardor na língua, boca e garganta, e por náuseas, vómitos e diarreia. O inchaço na garganta pode ser suficiente para bloquear a passagem do ar.

Assim que a exótica planta chegou ao continente americano, as flores acetinadas e as folhas lancetadas intrigaram de imediato vários artistas. No início do século XX, o jarro gozava já de grande popularidade, principalmente nas décadas de 20 e 30, quando dezenas de pintores e fotógrafos com as mais variadas reputações e visões fizeram dele o tema dos seus trabalhos.



A exposição "Georgia O'Keeffe and the Calla Lily in American Art, 1860–1940", iniciada no final de 2002, foi a primeira a examinar o grande atracção que esta flor exerceu sobre esses criadores, com uma mostra de 54 representações do jarro por 33 artistas tão diferentes quanto Imogen Cunningham, Charles Demuth, Marsden Hartley, Rebecca James, Georgia O'Keeffe, Joseph Stella ou Edward Weston. As pinturas de O'Keeffe, que ficou conhecida como "The Lady of the Lily" devido à frequência e ao modo emotivo com que representou o jarro, definem as suas realizações neste campo e dentro do contexto dos outros artistas americanos.

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